Debora era uma advogada conceituada na área trabalhista. 39 anos, separada,
dois filhos (15 e 12 anos). Sua carreira
ia bem até que um problema sério com o álcool quase botou tudo a perder. Abandonou
o trabalho, assim como perdeu o marido, Thomaz, e a guarda dos filhos. Resolveu se tratar. Limpa
a 9 meses, arrumou outro emprego e usou suas economias para comprar uma chácara
em Águas mornas, distante apenas 38 km de Florianópolis.
Como fazia todos os dias, levantou-se e foi ordenhar mimosa, uma vaca
holandesa premiada. Ordenhar mimosa sempre foi uma ótima terapia. Assim que
terminou, chamou a empregada:
-- Helena, pode servir a mesa.
Aqui está o leite. Deixa eu tomar um copo antes de ir pro banho. Hum...
delicioso. Prepare um café forte sim?
-- Mas senhora, isso não tá com
cara de leite não. Tá amarelo. Será que a vaca mijou no balde e a senhora não
viu?
-- Helena, pare de brincadeiras,
acabei de tomar um copo e esse leite está divino. Mimosa sempre deu leite bom,
aliás, vou tomar outro copo. Prepare o café que eu vou pro banho.
Helena olha para o líquido amarelo no balde. Uma espuma cremosa cobre a
parte de cima. "Vou provar", pensa. Vai ver que é um leite especial,
e, afinal, a vaca era estrangeira. Provou, e teve um choque. Era cerveja! E que
cerveja. Maravilhosamente boa. Mas isso não era importante, a patroa estava em
apuros e ela tinha que ajudar. Corre pro telefone e liga para Thomaz:
-- Seu Thomaz, o senhor precisa
vir aqui. A dona Debora apareceu com um balde de cerveja, e disse que tirou da
mimosa. Acho que ela não tá bem.
-- Puta que pariu, só me faltava
essa agora. Será que a maluca da Debora não aprendeu nada? Mas que merda.
Segura ela aí que eu tô indo, e não deixa ela beber.
Helena esconde a cerveja. Não sem
antes tomar um copo. "Mas que cerveja boa essa." Tinha acabado de colocar
tudo em um galão vazio quando Debora sai do banho. Estava nua e cantava o
Tchãn.
-- Ahh que banho gostoso...
Helena, fez o café? Ah, esquece o café. Vou tomar só leite hoje. Cadê?
-- Vish dona Debora, virei o
balde sem querer, e acabei de limpar tudo agorinha.
-- Mas que droga, sua incompetente.
Agora vou ter que esperar até amanhã pra poder ordenhar mimosa de novo. Mas que
merda. Mas que barulho é esse? É uma caminhonete?
-- Desculpa, dona Debora, a
senhora bebendo cerveja depois de tanto tempo não é bom. Pensa nos filhos...
-- Cerveja? - Interrompe Debora.
-- Tá maluca Helena. Me parece que quem bebeu foi você. Onde é que tem cerveja
nessa casa? Tô limpa faz nove meses, porra.
Nisso Thomaz entra na casa. Debora
não acredita.
-- Thomaz? O que você está
fazendo aqui, seu porco?
-- A Helena me chamou porque tu
apareceu com cerveja em casa, caralho. E vai botar uma roupa, que pouca
vergonha é essa?
-- Eu ponho a roupa se eu QUISER.
A casa é MINHA e eu posso andar pelada na minha casa. E que merda de história é
essa de cerveja, Helena? Me mostra então.
-- Tá aqui ó - Põe o galão na
mesa - Tava no balde que a senhora trouxe.
-- Mas isso é leite. LEITE! Eu
mesma tirei da mimosa. Tá querendo arrumar desculpa pra ir pra rua é? Me
processar, é isso? Me dá outro copo que eu tô com sede.
-- Nada disso - Interrompe Thomaz
- Onde já se viu leite amarelo, com espuma e gás? Se bem que a vaca é
holandesa... Deixa eu provar. Porra, que cerveja boa. Onde tu conseguiu isso,
Debora?
-- Que cerveja o que, já disse
que isso é LEITE. Não é possível que você não veja. Helena, tu tá de conchavo
com ele? O que tá acontecendo aqui. E me dá meu leite.
Debora pula em direção a mesa.
Thomaz tenta impedir. Engalfinham-se. Helena corre em busca de socorro. Por um
momento parece que Thomaz vai conseguir subjugar Debora, mas com um golpe
rápido, ela agarra-se ao saco dele. Aos
gritos de "Penico, penico" Thomaz se rende.
Helena volta com ajuda: Encontrou
um vendedor de melancias na rua, que chamou a polícia. Quando entram na casa
encontram Debora bebendo avidamente o conteúdo do galão, enquanto Thomaz
encolhe-se em um canto e pede em vão: "Onde tu conseguiu essa cerveja,
Debora?" Vão todos presos.
Na delegacia ficou decidido.
Debora está descontrolada. Chamam um psiquiatra que recomenda a internação por
tempo indeterminado. O diagnóstico: Alucinação causada por abstinência. Thomaz
insiste energicamente, quer saber a todo custo onde Debora conseguiu a cerveja,
mas ela só repete "Leite, leite." Algumas investigações provam que
ela não comprou cerveja em lugar nenhum.
Helena ficou cuidando da chácara,
e ordenha mimosa religiosamente, todos os dias, mas a vaca só dá leite. Thomaz
vai sempre olhar, e volta cada vez mais triste. Por mais que procure, nunca
mais achou uma cerveja tão boa. Gastou uma verdadeira fortuna para mandar
analisar o que restou do galão, e recebeu como resposta que era uma Weiss de
qualidade excepcional, com certeza artesanal, pois não havia nada parecido no
mercado, coisas da vida.
2 comentários:
Show de bola TIO!!
Cara, ele fiou bem escrito e dinâmico. Mas não achei ele tão interessante quanto o primeiro, ficou um texto meio forçado para a comédia.
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